Os santos de hoje não são como os de antigamente!
Antes os orixás , nkisis e voduns tinham mais
axé!” Por vezes, escutamos comentários como esses em nossos terreiros ou nos fóruns
de discussão sobre o candomblé na internet.
Ainda que entenda e concorde com o lugar ímpar
da ancestralidade em nossa vivência religiosa enquanto filhos de axé, gostaria
de lembrar que a exaltação de qualquer tempo passado não exclui a possibilidade
de exaltarmos também as nossas práticas atuais e olharmos para o futuro com
esperança e otimismo.
Digo isso pelas seguintes razões:
Primeiro, considerando-se que os orixás, nkisis
e voduns são forças da natureza, dizer que no passado eles tinham mais axé do
que hoje seria equivalente a dizer que o mar de ontem tinha mais axé do que o
mar de hoje.
Seria também equivalente a dizer, por exemplo,
que o fogo de ontem queimava mais do que o fogo de hoje.
Ora, água é água. Fogo é fogo. O fogo de ontem
pode ter sido diferente, porque queimou ontem, e precisa ser valorizado, mas
isso não quer dizer que o fogo de hoje em dia seja mais fraco ou mais frio.
Ademais, temos bons motivos para continuar acreditando que o fogo futuro
continue sendo quente e poderoso.
O segundo motivo pelo qual acredito que a
exaltação do passado dentre os povos de candomblé não deva ocorrer em
detrimento do reconhecimento da força atual e futura de nossa religião é que o
povo de santo sempre aprendeu a valorizar tanto seus mais velhos quanto seus
mais novos. Tanto nossos anciãos quanto nossas crianças são fundamentais para a
força de um axé.
Sabemos que o futuro do candomblé depende de
nossas crianças. Da mesma forma, devemos nos lembrar de que o futuro do
candomblé também depende do axé de nossos yawos.
Um dos perigos de acreditarmos que “antes os
orixás, nkisis e voduns tinham mais axé” é exatamente o de autossabotagem
dentro da nossa religião.
Precisamos evitar que tais ideias de declínio
de força afete a confiança de nossos recém-iniciados e nosso otimismo em
relação ao futuro do candomblé.
Devemos sempre ter fé e acreditar na força dos
santos, tanto os de hoje quanto os de ontem. Já possuímos inimigos externos
suficientes, não precisamos que o próprio povo de santo continue propagando o
pessimismo em relação ao presente ou futuro de nossa religião.
Precisamos lutar contra o desencantamento
implícito na fala daqueles que acreditam que os orixás, nkisi e voduns de
outros tempos eram mais fortes do que os de hoje.
Nossas águas de hoje continuam sendo água e
continuam sendo sagradas. O desencantamento do mundo é o que os nossos inimigos
esperam de nós. Enquanto povo de santo, precisamos continuar a valorizar e a
ter fé nas forças da natureza hoje e sempre.
Portanto, precisamos acreditar e exaltar o axé
que temos hoje, assim como devemos reconhecer a força e o valor de nossos
ancestrais. Enquanto o mundo for vivo, ainda haverá terra, haverá água, haverá
ar, haverá fogo.
Enquanto existir mundo, existirá a força dos
orixás, nkisis e voduns. E se um dia o mundo acabar-se, ainda haverá olorun,
obatalá,zambi e as divindades da criação. De lá, um novo mundo poderá ser
criado.
Precisamos apenas manter a nossa fé nos
orixás, nkisis e voduns, hoje e sempre.
(Texto fornecido por Colaborador J)
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